segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Ser o que os outros querem ...

Talvez faça parte do crescimento ou do amadurecimento, como lhe queiram chamar, o facto de conseguirmos aceitar que o outro nunca será o que nós queremos, assim como nós nunca seremos o que os outros querem.
Ouvi inúmeras vezes pessoas que falavam sobre o seu companheiro/a e diziam algo "ele muda, por mim ele muda". Nada mais falso, nada mais errado. Acredito que isso seja a razão de muitos divórcios, a razão de muitas discussões e até o motivo porque algumas pessoas que se amam, não estão juntas.
Desde pequena, nunca fui o que os meus pais queriam, eles queriam que eu fosse mais calma, eu era irrequieta, queriam que não fosse mimada, eu era o mimo em pessoa, queriam que me comportasse bem, eu batia nos miúdos só porque passavam na minha rua, queriam que não rasgasse as meias, eu todos os dias levava uma sapatada porque entrava em casa com as meias rasgadas. Mais tarde, queriam que eu não namorasse com o André, eu namorava às escondidas, depois queriam que eu fosse para Ciências, eu escolhi Direito, queriam que eu não saísse à noite, eu saio quase todos os sábados, queriam que eu não bebesse álcool ou não fumasse, pois que não deu e sabem que bebo e fumo, mas eles aceitam-me, como eu sou, com mais birras, com mais discussões, com mais sapatadas, com mais castigos, bem sei que são meus pais, mas aceitam-me porque me amam, queriam que eu fosse diferente, mas sabem que eu não sou como eles querem, eu sou como eu quero ou como nasci.
Se aplicarmos isto aos nossos amigos, é a mesma coisa, se são nossos amigos aceitam-nos como somos e o contrário também se aplica, se são nossos amigos sabem o que nos irrita neles, sabem que nos podem dizer coisas como "porra que mau feitio" que não nos zangamos e não nos querem mudar.
Então eu pergunto, porque motivo continuamos a querer mudar o nosso/a companheiro, marido, namorado?! Se sabemos que não dá.
Uma coisa são as cedências, sim, para termos uma relação duradoura, temos de ceder, temos de fazer o que o outro quer, de vez em quando, ou o que o outra gosta, para depois recebermos do outro isso mesmo.
Mas continuamos a querer que ele se vista como nós queremos, continuamos a amuar quando não têm tempo para nós porque vão fazer algo de que gostam, continuamos a querer que ele fique em casa, ou que saia, que fale mais, ou menos, que dance, ou que não dance, que seja mais carinhoso, ou deixe de ser meloso, como se nós fôssemos perfeita(o)s!
Não dá, não dá para sermos o que os outros querem, nem somos o que os outros querem.
Eu serei sempre a desbocada, que às vezes fala para não estar calada, que discute mesmo sem motivo, serei sempre alguém a quem custa mesmo muito dar "o braço a torcer", serei sempre orgulhosa, impulsiva. Serei sempre a que pensa muito mais do que aquilo que devia, terei sempre mau feitio, serei sempre ansiosa e a que sofre por antecipação, teimosa que nem uma mula, e toda uma panóplia de características.
Ele será sempre mais calmo, o que fala menos, o que quase nunca discute, a não ser que tenha motivo (o normal claro está), será sempre o mais tranquilo, o que não tem mau feitio e devo dizer que não continuo a descrevê-lo, porque não quero que fiquem tentadas a roubar-me o moço.
Hoje sei que para sermos realmente felizes temos de aceitar o outro tal como ele é. Se virmos que não conseguimos estar com alguém assim, só temos de saltar fora, porque de outro modo, passaremos a vida a tentar mudar o outro e isso nunca acontecerá.

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