terça-feira, 30 de julho de 2013

Não faço fretes

Tenho 27 anos, e se há anos pensava no meu futuro, nunca foi isto que imaginei.
Pensava sempre que iria continuar com os amigos de sempre, com o grupo dos galinheiros, que estaria no CEJ e sem namorado.
Pois que a vida dá muitas voltas, e estou na Ordem dos Advogados, algo que nunca quis, mas que gosto de fazer.
Embora o estágio seja maçador, embora o patrono seja louco, tanto me leve às lágrimas como ao riso em segundos, e talvez não seja o melhor patrono, mas é o que eu tenho, e a meses de terminar o estágio não vou mudar, apenas porque se aguentei até agora, também aguento o resto, até porque não sei o que implicaria essa alteração, e na verdade trabalho em todas as áreas.
Gosto dos tribunais, do frio na barriga que sinto quando lá entro, das noites anteriores sempre a dormir mal, e da sensação final "oh afinal era isto? fácil..." ou então "ai correu tão mal, o meu patrono vai me matar...", mas é assim mesmo, afinal mesmo os grandes profissionais erram, e eu ainda estou a aprender.
Tenho 27 anos e estou de bem com a vida. É verdade que sou meia bipolar, que tão depressa estou a rir, como a chorar, mas é verdade que estou bem resolvida.
Tenho  namorado há anos, nunca por nunca tive uma relação tão longa, até porque lá está, sempre fui do género "agora não gosto muito e ele está completamente caído", "oh pá queria dar-me a mão, já viste isto? eu detesto andar de mão dada..." habituo o rapaz e ele depois diz "oh pá já não gosto tanto de ti.... e temos de dar um tempo, ou algo do género", e o que faz a Rita? "Ai que eu gosto tanto dele, agora que ele não gosta, ai que eu até lhe queria dar a mão..." Pois, não é fácil compreender-me...
Mas tal como dizia, tenho namorado há anos, namorado que amo de paixão, que tenta compreender os meus devaneios, embora nem sempre consiga, e então o que faz?? "Deixa pra lá"... e como é inteligente. Na verdade, é um pouco como eu, não gosta cá de show-off, nem de longos beijos em público, nem de mãos dadas, nem de paneleirices do género. Claro que eu as vezes, normalmente quando há álcool à mistura, gosto do show-off, mas bendito namorado que não se entusiasma tanto quanto eu.
Tenho 27 anos, e há anos atrás pensava que tinha muitos amigos, pois que estava redondamente enganada. Tenho pouco amigos, mesmo poucos. Tenho pessoas de quem gosto, muitas, mas amigos de verdade, nem por isso. E eu penso, mas é tão fácil ser meu amigo, porque vá, é verdade, tenho mau feitio, tenho ciúmes de amigos (que porra mais estranha, mas a verdade é que tenho e detesto quando os sinto), mas sou tão mais de dar, sou tão mais de mimar, de fazer tudo o que está ao meu alcance pelos meus amigos, é que faço mesmo, não é cliché, faço o que for necessário. Agora depois há aqueles que eram meus amigos, pensava eu, aquele que me ligava, ou me enchia a caixa de mensagens para desabafar, ou porque precisava de conselhos, ou porque ela dava para trás e ele não sabia o que fazer, e quem chamava? A Rita. Agora que ela já é tudo de bom, e mimimimi, pois que, "Rita? Quem é? Não conheço?". E isso não é ser amigo, isso é fingir que sou amigo porque me dá jeito. E sabes que mais? Quem perde és tu, mas vá, muitas felicidades, de preferência bem longe de mim.
Tenho 27 anos e tenho poucos mas bons amigos, claro que a maior parte das vezes eu só ouço, porque pergunto é verdade, ouço o que se passa, o que decidiu fazer, o que sente, porque pergunto, porque me interesso, porque realmente quero saber.
Tenho 27 anos e não me importo nada de os ter, não acho que estou a ficar velha, até porque se tiver de me deitar às 22h30 deito, mas se tiver de sair até de manhã, de beber com miúdos de 19 anos, de saltar numa pista de dança, também o faço.
Sou mimada, sempre fui, mimada pelos pais, pelo irmão, pelos avós que já não tenho, e quando as coisas não são como eu quero, amuo, esperneio, etc etc, mas as coisas são quase sempre como eu quero, claro está aquelas em que tenho poder de decisão.
Sou mimada, mas sempre fui de resolver os meus problemas, de meter a mão na massa, de ir em frente, muitas vezes cheia de medo, mas resolvo ... Nunca espero que os outros o façam, até porque se não fazem como eu acho que devem, ai que aí está o caldo entornado.
Estou sempre a reclamar com o meu namorado porque ele não faz planos, ou não pensa em fazermos isto ou aquilo, mas na verdade quando o faz eu ponho defeitos, ou digo que preferia isto ou aquilo, e no final de contas quem organiza, quem decide, quem planeia sou eu.
Tenho uma família de loucos, em casa todos falam alto, todos se chateiam e passado 1 minuto já está tudo bem, como se nada tivesse acontecido.
Não sou fácil, tenho muitos defeitos, como a impulsividade, muitas vezes não consigo filtrar as coisas que digo, sou muito de falar alto, tenho um ar antipático, amuo, regateio, mas sou assim, sou assim e estou de bem com a vida e não faço fretes.
E foi este o desabafo de hoje, porque me apeteceu.