terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Cada um tem o seu dia 24 de Dezembro...

Eu gosto de um que é mais ou menos assim:
De manhã bem cedo toda uma cozinha empestada de cheiro a fritos.
"Ah só chegaste agora menina?!";
"É preciso fazer alguma coisa?!";
"Que cheirinho a leite creme da J.";
"Tira dois pratos para queimares já ao meio dia";
Ao fundo ouve-se uma criança a gritar, "oh já chora o A., alguém que vá lá ver!"
Começam a chegar os homens, "oupa vão pra mesa que o bacalhau já está assado";
Comem às prestações, muito barulho, muitas conversas cruzadas, muitas crianças a brincar, "o Z. não gosta de bacalhau, ponham os bifes à beira dele";
"A J. vai queimar o creme, vamos já à cozinha para tirarmos";
"E um estalinho já ia não?";
Estalinhos e conversas cúmplices;
"Temos de arrumar a cozinha para começar a preparar a tronchuda e descascar as batatas";
"É preciso ir ao ecomarché";
"Quem fica a tomar conta dos meninos? Eu tenho de ir a casa.";
Os meninos dormem a sesta.
Uma tarde mais tranquila, a lareira acesa, todos os preparativos, chegam as tias para fazer o jantar.
"Temos de pôr a mesa, a S. vai fazer uma decoração com os guardanapos".
Tiram-se fotos, conversas de sala, mulheres na cozinha, coradas, em volta das panelas, sêmea em cima da mesa.
"Ui já estou farta de receber mensagens de Natal";
"Oh eu este ano não respondo, já pus no Facebook";
"Oh R. escreve-me aí uma mensagem de Natal";
Um jantar, hoje bebemos vinho, ouvem-se algumas vezes "o Natal já não é o que era", pois não, faltam as duas pessoas mais importantes, os nossos pilares, porque sem eles não existiamos.
"Ui a tia já está a lavar a loiça";
"Vamos fazer um jogo";
"Tem ali o Uno";
"Hoje quem é o Pai Natal";
"Temos de esperar pela C.";
"Vamos lá em cima ajudar";
Pai Natal, conversas, jogos, cusquices, presentes, mais presentes, risos, amuos, "oh deixa pra lá, isso passa".
Não dá para resumir, não dá para explicar, só quem está sente, quem não está não entende.
Somos muitos, não somos perfeitos, mas somos nós.
Unidos pelo sangue e pelo coração.
Sei que alguns não sabem o que é sentir isto, ou até não entendem a necessidade que temos, e como só somos felizes com este Natal.
Mas foi assim que aprendemos, foi assim que crescemos, e eu só tenho medo do dia 24 em que tudo seja diferente, porque já é, já não temos os dois maiores, os que nos unem, mas sei que onde estão, estão contentes por nós, por quem está ali, por estarmos juntos, graças à tia C. que o permite, seremos eternamente gratos. 
Para mim só faz sentido assim, mesmo que seja diferente, agora com tantas saudades, que sentimos sempre, mas nesta noite em particular, mas só assim os honramos, foi assim que nos ensinaram.
Não quero que isto acabe, sei que um dia será diferente, mas espero que demore muitos dias 24.
Porque gosto tanto do meu, gosto tanto de nós, com os nossos defeitos, as nossas loucuras, somos nós, são os meus, os meus amores maiores!
    

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